Morre Jeff Beck, o maior visionário e inovador da guitarra

Não é necessário discutir. É só ouvir. E então se maravilhar com o som cristalino e mágico que Jeff Beck extraía de sua guitarra Fender Stratocaster. O melhor guitarrista da história – Jimi Hendrix não conta, já que não era deste planeta, assim como Pelé no futebol.

A comoção de sua morte, aos 78 anos de idade, mostra o tamanho de sua carreira e de seu prestígio. Todos os grandes guitarristas de renome prestaram as devidas homenagens – Tony Iommi (Black sabbath), Jimmy Page (Led Zeppelin), David Gilmour (Pink Floyd), Joe Perry (Aerosmith), John McLaughlin (banda de Miles Davis), Pete Townshend (The Who)…

Beck parecia indestrutível e não seria uma meningite bacteriana que o derrubaria. mas derrubou e nos tirou a chance de ouvir algumas vezes mais o timbre fantástico de sua Strato.

O amigo Jimmy Page, que o indicou aos Yardbirds quando Eric Clapton saiu, em 1965, dizia que Beck era muito pesado para a sua época. Era muito agressivo, incisivo e que, muitas vezes, seu “ataque” às cordas não era adequado a uma canção pop – e que justamente por tudo isso é que ele se diferenciava.

Curiosamente, Beck começou como um guitarrista de música pop nos Tridents, entre 1963 e 1964. Caiu de cabeça no blues nos Yardbirds e na primeira fase do Jeff Beck Group ao lado de Rod Stewart. Na segunda fase, sem o amigo, optou pela soul music e elo rhythm and blues.

Sem renegar a sua inclinação pelo som pesado, partiu para hard rock em 1972 no trio Beck, Bogert and Appice, mas durou pouco, só um ano e meio. Em 1974, mudou tudo e se tornou um músico de jazz, privilegiando música instrumental, o que deu o tom de sua trajetória até o final da vida.

Há quem diga que ele nunca gravou um trabalho ruim. Infelizmente o último lançamento, “18”, em parceria com o ator metido a guitarrista Johnny Depp, desmente essa afirmação, mas ainda assim o que é ruim saindo de Beck é muito bom na comparação com tudo desde sempre, m relação aos meros mortais.

“18” na verdade é um trabalho de Depp, que enfiou seis composições e gravou algumas versões de clássicos da música. Jeff Beck gravou a maioria das guitarras e não há um solo que mereça reparos. Não é um trabalho memorável, mas é o que se salva no disco. – solos e alguns riffs inspirados.

Como último trabalho de grandeza, fiquemos com “Patient Number 9”, que está no álbum de mesmo nome de Ozzy Osbourne, do ano passado. Beck carrega a música nas costas e a transform na melhor coisa da obra, mostrando-se craque na melodia e colocando solos imponentes que fazem a música crescer.

Nas duas vezes em que esteve no Brasil fez o mundo parar ao desfilar sua técnica e seu feeling extraordinários. Em 1999, por exemplo, no show de São Paulo, hipnotizou a plateia de tal forma que era impossível ouvir alguém respirar.

O show pesado, intenso, longe do jazz esperado, mas com uma contundência e uma vibração em uma contundência inesperados para a música instrumental – e experimental, diga-se de passagem, com a brilhante presença da guitarrista Jennifer Batten (da banda de Michael Jackson) como musicista de apoio.

Assim como Hendrix, Beck demoliu paredes e redefiniu horizontes no rock e no jazz rock. Criou, inventou, inovou e ousou como nenhum outro músico popular conseguiu. Gigante é um termo inadequado para tentarmos estabelecer a dimensão da importância de Geoffrey Arnold Beck.

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