A união improvável entre Jimmy Page e David Coverdale completa 30 anos

No auge da fama do Whitesnake, entre 1987 e 1990, David Coverdale concedeu uma entrevista a uma revista inglesa onde desdenhava de algumas músicas do Led Zeppelin e sobre supostas acusações que aquela banda estava recebendo por ter plagiado ou ao menos ter copiado trechos de outras músicas em suas composições.

“Isso é bastante questionável. Se formos levar a fundo mesmo, então mudaremos a história e o Led Zeppelin terá de pagar um dinheirão para Willie Dixon (bluesman norte-americano). Ele é o ‘verdadeiro’ autor do primeiro LP do Led”, disse Coverdale.

A falta de jeito e de educação espantou quem o conhecia. Afinal, desde os tempos de Deep Purple que ele havia deixado o estilo polêmico para lá. Um jornalista brasileiro tentou lembrá-lo sobre a declaração durante uma entrevista por telefone, mas o cantor inglês desconversou e afirmou não se lembrar daquelas palavras.

O curioso é que, para se defender à época, acabou atacando Jimmy Page, o principal compositor do Led Zeppelin. Pouco tempo depois, Coverdale pareceu não se importar em trabalhar com um “plagiador”.

O projeto que reuniu os dois era secreto em meados de 1991. Foi de ideia do estafe de Page e da gravadora dos dois à época convidar Coverdale para um projeto de hard rock mais pesado, já que Robert Plant recusara nova proposta de reativar o Led Zeppelin. 

Coverdale ficou entusiasmado e aceitou conversar e tomar umas cervejas com Page e seu empresário para ver se rolava algo.

Dois depois, estavam na casa do guitarrista para algumas jams no estúdio caseiro do local; um mês depois, estavam assinados os contratos para que o Coverdale-Page, nome escolhido para o projeto.

E tudo foi feito em segredo, que conseguiu ser mantido até o começo de 1993, quando ninguém conseguia entender o porquê de o vocalista ter desfeito o Whitesnake após a turnê de estrondoso sucesso de 1990.

“Coverdale-Page”, álbum homônimo lançado no meio de 1993, completa 30 anos e é uma obra-prima do hard rock, mesclando a veia mais popular de Coverdale e o peso das guitarras zeppelinianas de Page.

O vocalista foi criticado à época por exagerar nos agudos em algumas músicas, o que foi encarado como uma tentativa de emular as performances de Robert Plant nos tempos áureos do Led, na década de 70.

É fato que Coverdale forçou um pouco, mas nada que tire o brilho de músicas fantásticas como “Absolution Blues”, “Shake My Tree”, “Take Me For a Little While”, “Whisper a Prayer for the Dying”, “Pride and Joy” e “Over Now”.

David Coverdale (esq.) e Jimmy Page (FOTO: DIVULGAÇÃO)

O entrosamento entre os dois músicos foi total, desde as jams na casa de Page até as jams realizadas no Japão como aquecimento para a turnê. O problema é que tudo estava indo bem demais, todo mundo estava feliz demais, e isso é um perigo em se tratando de Jimmy Page.

Quem esteve envolvido no projeto conta que apenas os músicos de apoio da banda, o baixista Ricky Phillip e o baterista Denny Carmassi (ex-Heart) estavam empolgados com a chance de trabalhar com as duas lendas do rock.

A questão era a falta de empenho dos atores principais, segundo comentou na época o produtor John Kalodner. Jimmy Page e David Coverdale demoraram cerca de um ano para compor e gravar suas partes, o que atrasou demais o projeto.

Eles ficaram satisfeitos com o resultado, mas havia certa resistência em fazer a coisa andar, e nem Page nem Coverdale sabiam explicar o porquê,

Há quem diga que o guitarrista é notório por ser perseguido pelo azar ou por “maus fluidos”. Seja como for, o que deu muito certo nos bastidores e nos ensaios ficou esquisito nos palcos.

As primeiras performances no Japão foram ótimas, mas depois a coisa começou a complicar. Os empresários de Page começaram a se incomodar com as performances bombásticas de Coverdale, além das vendas decepcionantes, apesar de boas, do CD. Eles achavam que choveriam convites para turnês pela Europa e Estados Unidos, mas isso não ocorreu.

Após sete shows no Japão Page foi praticamente obrigado pelos empresários a “descontinuar” a dupla por medo de fracasso financeiros no resto do mundo. Isso não afetou a amizade entre os dois, mas Coverdale não poupou críticas e acusações pesadas contra os empresários de Page. Nem mesmo um CD excelente foi suficiente para manter esse projeto em pé.

Alguns anos depois, em 2000, durante entrevistas para divulgar o álbum solo “Into the Light”, Coverdale insinuou que a parceria não foi em frente porque já havia conversas bastante adiantadas entre os empresário de Robert Plant e Jimmy Page para retomar o Led Zeppelin ou fazerem um trabalho em dupla.

Seja como for, Coverdale parecia ter razão. Page e Plant voltaram a tocar juntos em 1994, quando gravaram um especial para a MTV que aabou sendo lançado em DVD e CD com o nome de “No Quarter: Jimmy Page and Robert Plant Unledded”.

Quatro anos depois foi lançado o CD “Walkin into Clarksdale”, totalmente com músicas inéditas, sendo que a parceria chegou ao fim no ano seguinte. 

Assim como o BBM – o Cream de Eric Clapton sem o mesmo, com Gary Moore em seu lugar -, o Coverdale-Page foi um grande projeto que não vingou por questões puramente comerciais. Quem perdeu fomos nós.

** Cortesia do site Combate Rock – www.combaterock.com.br

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