Resenha de show: Angra em São Paulo – 13/08/2016


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O show do Angra no último sábado comemorou os 20 anos do lançamento de “Holy Land”, o segundo álbum da banda e cujo único integrante remanescente é o guitarrista Rafael Bittencourt. Por isso, para essa apresentação, foram convidados o batera Ricardo Confessori e o baixista Luís Mariutti, que estiveram na gravação do disco, para participações especiais.
Havia esperança da presença de Kiko Loureiro, o guitarrista que, desde o ano passado, faz parte do Megadeth, porém a data coincidiu com o show da banda americana em Fortaleza. A presença surpresa de Edu Ardanuy, do aposentado Dr. Sin, supriu, no entanto, qualquer demanda do público por um renomado guitar hero brasileiro no palco.
As músicas do álbum de 1996 não foram tocadas rigorosamente na ordem do disco. Aliás, o Angra não deixou de lado a oportunidade de divulgar o último lançamento, “Secret Garden”, que, apesar de ser de 2014, teve quatro de suas faixas incluídas no show. A apresentação abriu, inclusive, com “Newborn Me”.
A clássica “Wings of Reality”, juntamente com “Waiting Silence”, precederam o início da homenagem a “Holy Land”. Entre as músicas, o vocalista italiano Fabio Lione conversava bastante com o público, mostrando que seu português já evoluiu bastante.
A primeira faixa de “Holy Land” que o Angra tocou foi “Nothing to Say”, e, a partir daí, seguiram à risca o cronograma do álbum, até “The Shaman”. Do lado esquerdo do palco, o tecladista Juninho Carelli (Noturnall), com seu corte de cabelo moderno, chamava a atenção. Presente como convidado, acompanhava as intrincadas composições do Angra em um dispositivo eletrônico com as partituras, ganhando destaque nas longas passagens de “Carolina IV”, principalmente.
Ricardo Confessori subiu ao palco e, por alguns momentos, o Angra teve uma formação com duas baterias. Ao lado do atual baterista Bruno Valverde, Confessori protagonizou um momento especial, marcando o propósito da homenagem, com um duelo aproveitando o gancho inicial de “The Shaman”. O sincronismo entre os dois talentos produziu sacadas bacanas, como intercalar momentos onde cada um podia mostrar suas habilidades. Bruno optou por enfatizar as batidas velozes nos pratos e Confessori nos tontons. Um deleite para quem curte o instrumento. Ainda mais com a participação de um percussionista cheio de recursos, Dedé Reis, que tornou a brincadeira ainda mais extrema.
Em outra parte do show, Bruno Valverde teria seu momento de solo propriamente dito, quando surpreendeu com as rápidas batidas cruzando seus braços.
Em seguida, “Z.I.T.O.” inverteu a ordem do álbum e foi tocada antes de “Make Believe”. A pedido do público, Rafael Bittencourt, começou a explicar o significado da sigla que dá nome àquela música, mas acabou apenas dando a dica de que a resposta estava na letra. Rafael assume agora, com a partida de Kiko Loureiro, uma postura natural de líder, assumindo até o vocal principal em algumas canções, arriscando até mesmo substituir André Matos em “Deep Blue” e “Lullaby for Lucifer”, esta tocada somente depois de “Final Light”, “Time” e “Storm of Emotions”.
Luís Mariutti assumiu as quatro cordas durante parte da homenagem a “Holy Land” e, claro, foi ovacionado com os tradicionais gritos de “Jesus”, devido a sua aparência na época em que esteve na banda. Sua participação foi correta, porém discreta, mais até do que antigamente.
A balada “Silent Call”, cantada e tocada por Rafael Bittencourt, marcou o momento acústico e intimista do show, que foi quebrado em seguida com a pesada “Angels and Demons”. A dinâmica do show seguiu nessa alternância de climas, tendo “Rebirth” na sequência, que possui ambas atmosferas.
A apresentação durou duas horas e cinquenta minutos. Parte dessa duração longa foi causada pelas constantes conversas de Lione, entre as músicas, o que chegou até a irritar o Felipe Andreoli quando o vocalista colocou o microfone em sua boca, perguntando sobre o processo de composição de uma das músicas. Por outro lado, ninguém reclamou quando Fabio Lione usou o tempo para mostrar seus enormes talentos, provando dotes de um cantor de ópera.
A jam final também foi longa. Juntou a banda aos convidados que já haviam aparecido no palco, além de Edu Ardanuy, referência para a cover escolhida para a noite. Afinal, para um guitarrista no estilo Eddie Van Halen, nada melhor do que “You Really Got Me”. O episódio memorável foi o duelo de solos de Ardanuy com o também virtuoso Marcelo Barbosa, que assumiu o posto de Kiko. As distintas características entre os dois resultaram em uma brilhante mostra de talentos. Mas a parte vocal da brincadeira ficou prejudicada porque Bruno Sutter, o convidado que havia feito o show de abertura da noite, se atrasou para entrar no palco e Fabio Lione não sabia a letra.
Esse pequeno detalhe, já num momento descontraído, não ofuscou essa histórica apresentação da tradicional banda brasileira, vivenciada por um público que encheu o Tom Brasil.


 
 

Fotos e texto: Eduardo Kaneco

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