Def Leppard e Aerosmith no São Paulo Trip: classe e volúpia

A noite de domingo foi reservada para duas bandas acostumadas a grandes arenas. A primeira nasceu em Boston, Estados Unidos, nos anos 1970, mas só virou megassucesso na década seguinte, conseguindo manter a popularidade até hoje. A outra vem de Sheffield, Inglaterra, lançou seu primeiro disco em 1980 e ascendeu meteoricamente, mas não conseguiu permanecer no topo, ainda que agora tenha recuperado parte de sua fama. Estamos falando de Aerosmith e Def Leppard, respectivamente.

Os ingleses tocaram primeiro, na mesma ordem em que tocaram na quinta-feira passada no Rock in Rio. Apesar de o Def Leppard ser o número de abertura, com tempo de show reduzido, seu cenário de palco foi preservado, e consistiu em uma bateria elevada, com duas paredes laterais formadas por várias telas sincronizadas com as músicas. Esse detalhe esteve em sintonia com a segurança demonstrada pelos músicos em cima do palco. Todos muito experientes, porque o Def Leppard é um dos poucos grupos musicais que conseguiram manter sua formação estável. Exceto pela saída do guitarrista original logo nos primeiros anos de carreira, a única troca foi motivada pela morte do guitarrista Steve Clark, substituído pelo ex-Dio Vivian Campbell. Nem mesmo a perda do braço esquerdo do baterista Rick Allen foi capaz de provocar sua substituição.
O Def Leppard possui várias composições espetaculares e o repertório do show não tem nenhuma música dispensável – talvez a nova “Man Enough”, que poderia ter sido trocada por outra mais conhecida. Os destaques ficaram por conta das antigas “Let It Go”, “Bringin’ On The Heartbreak” e a instrumental “Switch 625”, que inclui até um breve solo de bateria. O público no Allianz Parque reuniu majoritariamente fãs do Aerosmith, e muitos pouco conheciam o Def Leppard. Então, a inclusão da balada “Love Bites” na primeira parte da apresentação foi essencial para criar uma empatia com esses espectadores. Afinal, a famosa balada ganhou até uma versão nacional (“Mordida de Amor”, do Yahoo). Outras que agitaram muito foram “Pour Some Sugar On Me” e “Rock of Ages”, cantadas com vitalidade pelos fãs. Foi um show de classe, com os timbres das guitarras perfeitamente equalizados, como o som de “Hysteria” muito bem representou.

O Aerosmith deu outra cara à noite, principalmente por conta de Steven Tyler. A volúpia tomou conta das muitas mulheres presentes, correspondendo às provocações do vocalista, que insistia em encenar poses sexuais. O setlist alternou as várias fases da banda. Começou com duas faixas bem rocker, “Let The Music Do The Talkin’” e “Love in a Elevator”. Em outro momento, colocou blues no show, tocando covers de “Stop Messin’ Around” e “Oh Well”, ambas do Fleetwood Mac, quando o guitarrista Joe Perry pôde assumir os vocais, com bons resultados. O lado mais pop resultou no momento “agora só as mulheres”, frase que não foi necessária, porque “Crazy” e “I Don’t Want to Miss a Thing” naturalmente encheram o estádio com coros femininos.
Vários momentos de improvisação tentaram imprimir um clima mais visceral na apresentação do Aerosmith, para contrapor a faceta mais comercial de alguns hits. Isso, porém, não se encaixou tão bem. Alguns fãs aproveitaram esses minutos para relaxar um pouco e o show esfriou. Essas improvisações soaram como jam sessions, com o agravante de que os músicos, apesar de super competentes, não se equivalem aos roqueiros geniais da década de 1970. Esse detalhe, felizmente, não diminuiu a pompa do espetáculo, que incluiu até um piano de cauda na passarela do palco, para a interpretação de “Dream On”.
 
Setlist do Def Leppard
Let’s Go
Animal
Let It Go
Love Bites
Armageddon It
Man Enough
Rocket
Bringin’ on the Heartbreak
Switch 625
Hysteria
Let’s Get Rocked
Pour Some Sugar On Me
Rock of Ages
Photograph
 
Setlist do Aerosmith
Let the Music Do the Talking
Love in an Elevator
Cryin’
Livin’ on the Edge
Rag Doll
Stop Messin’ Around
Oh Well
Crazy
I Don’t Want to Miss a Thing
Mama Kin
Come Together
Sweet Emotion
Dude (Looks Like a Lady)
Dream On
Walk This Way