Conheça alguns nomes do novíssimo rock nacional
– A Nano Orquestra, que tem suas origens em São Paulo, apresenta dois novos singles e vem com uma proposta diferente, mas próxima de uma MPB com queda para a bossa nova, tudo envolto em uma moldura folk, que chega próximo ao trabalho solo de Tim Bernardes, guitarrista e vocalista de O Terno. Há quem diga que a banda flerta com o rock rural, mas está bem distante dessa classificação. “Rebuliço” é uma canção bastante interessante, com ótima letra e belos arranjos de violão e flauta. Eletrificada, ficaria excelente como um folk rock que não teria paralelos no Brasil. “Flor do Deserto” é ainda mais cadenciada, evidenciando a boa qualidade da letra com um instrumental minimalista. São músicas bem diferentes do que estamos acostumados a ouvir no mundo underground da atualidade. Longe de qualquer engajamento e ativismo, busca um som mais “vintage”, emulando uma época em que o mundo era mais simples, ainda que mais perigoso. parece que essa tendência de vasculhar a bossa nova mais raiz, com arranjos de MPB mais sofisticada, está ganhando terreno. O guitarrista de blues Filippe Dias, em seu mais recente álbum, “Dias”, encerrou o trabalho com três canções excelentes que passeiam por essa área. A banda é liderada pelos guitarristas e violonistas Victor Mendes e Di Grecco.
– Na mesma linha caminha outro projeto singular e interessante, a Mini Orquestra de Macondo, que tem na praça o EP “A Terra É Redonda Como Uma Laranja”. Mistura de folk rock com MPB classuda e intelectualizada, também investe em letras mais elaboradas, embora não tão herméticas quanto às da Nano Orquestra. Com larga utilização de violino e bons arranjos de violão e guitarra acústica, flerta bastante com o jazz, como na ótima canção “Latifúndio”, a melhor do EP. As linhas melódicas são suaves e quase etéreas, criando um clima retrô que parece ser moda entre jovens músicos que redescobrem as belezas da MPB mais antiga, quando não o mais rasgado forró regado a muito frevo. São músicas mais intimistas, que passam longe da verve mais ácida e urgente, mesmo que seja um soft rock. Ainda que tenha um clima de suavidade, “Latifúndio” em uma carga dramática que a torna bastante interessante. “Coração Cordel” mergulha na seara da música regional, em especial a nordestina, com bons resultados. “Instantes Paralelos” e “Tudo Se Desfaz” abraçam uma MPB mais tradicional, de cunho acústico e com algum regionalismo, mas sem as boas ideias das duas canções já citadas. Ainda que tenha um certo clima de “música de faculdade de humanas”, a Mini Orquestra de Macondo tem um caminho bem vasto e interessante ara trilhar. O quinteto é de São Paulo e é formado por Juliando Mends (guitarra, violão e voz), Brenda Umbelino (baixo e voz), Gylez (viola), luMa (guitarra) e Pedrita Ribeiro (bateria).
– Os Brutus voltam com tudo ao mercado com um CD bem bacana, “Primitivo e Civilizado”, lançado pelo selo Baratos Afins. É preciso bastante coragem para investir em surf rock em pleno 2022, mas qualquer dificuldade parece ter sido tirada de letra, pois os músicos certamente se divertiram bastante compondo e gravando – é o que transmitem todas as canções, que são instrumentais. Curioso e divertido, o álbum é salpicado de trechos que emulam transmissões de rádio dos anos 50 e 60 com mensagens ecológicas. É difícil destacar alguma canção dentre um conjunto de dez músicas bem legais. “Dispersão” e “Vampira Russa” têm um pouco mais de peso, caindo bastante no rock mais visceral”, enquanto que “Fica Tranquilo” e “Rainha da Piscina” pisam um pouco mais no freio, com solos geniais de guitarra. “Homem Gigante” e “Volante” já são mais tradicionais, com pegadas que remetem diretamente a Ventures e Shadows, nomes importantíssimos do rock instrumental dos nos 50 e 60. A banda é formada por Doug Pererê (guitarra), Fantasma Marciano (baixo) e Tubarão Martelo (bateia).
– Também abusando de uma estética retrô, o cantor paulista Fla Mingo é outra “cria” do selo Baratos Afins, capitaneado por Luiz Calanca, aquele das coletâneas “SP Metal I e II” e responsável pelos lançamentos iniciais do Golpe de Estado. Sujo e despojado, o som é uma mistura setentista de David Bowie fase Berlim, Iggy Pop e o underground inglês de Manchester da década seguinte. O EP “Esquina” tem sete músicas com produção bastante crua e simples na tentativa de reforçar o foco na voz e nas composições. Quase hard em alguns momentos, quase punk em outros, Fla Mingo canta rasgado e forte sobre uma base de guitarras ferozes em “Descontrole” e “Tanto Faz’, revelado uma urbanidade urgente e cosmopolita. “Los Amigos” tem parentesco com algumas das melhores canções da banda Cachorro Grande, enquanto que “Fácil Demais” bebe no rock brasileiro dos anos 80. É um trabalho de um artista inquieto e em busca de uma linguagem própria, tentando trilhar por uma certa marginalidade que soa fora de moda hoje em dia. Entretanto, é um começo.
– Black metal é um subgênero traiçoeiro da música pesada. Bem feito e bem gravado, costuma render música interessante, ainda que não digerível ao primeiro momento. Quando se erra a mão, a massa sonora impede qualquer análise mais aprofundada. Com isso em mente, a banda Acacia Crown caprichou na gravação e nos detalhes de produção em “The Last Acacia”, um álbum da gravadora Heavy Metal Rocks que surpreende pela força do repertório e pelo instrumental quase impecável. É música bem pesada, extrema, mas de aspecto atmosférico, denso e incômodo – como tem de ser o metal extremo, em todos os sentidos, As sete canções autorais e mais um single antigo agregado dão a entender que se trata de algo conceitual, mas é só impressão, pois cada composição tem sua personalidade própria. “Behind the Silence” e “Guilty Dream” se destacam pelo peso e também pelos belos arranjos de guitarra e elos vocais be captados e trabalhados. “Black Wind” e “Valley of Lies” também merecem uma audição mais atenta, onde as guitarras novamente são o destaque.
** Cortesia do site Combate Rock – www.combaterock.com.br