Black Pantera vai atrás da juventude com som pesado e engajamento social
O Pantera original tietou os “discípulos em um festival gigante onde outros gigantes se apresentaram. Escalados de última hora para tapar um buraco – a banda de metalcore americana Motionless in White cancelou o show por motivos de saúde de um integrante – o trio mineiro Black Pantera abriu o Knotfest em São Paulo e foi elogiadíssimo.
O show foi tão poderoso que Phil Anselmo, o único membro da formação clássica do Pantera na formação que tocou no festival -, fez questão de cumprimentar os três rapazes negros que fazem uma mistura de hardcore e thrash metal com letras politicas e engajadas.
É a coroação de um período intenso de ascensão da banda no mercado nacional e internacional – não é á toa que ótimo trabalho de 2022 dos músicos se chama “Ascensão”, mais irado e mais contundente do que o anterior, “Agressão”.
O engajamento em campanhas antirracistas, antifascistas e pelos direitos humanos não passou incólume em um período de forte polarização política no Brasil. A canção “Fogo nos Racistas”, do mais novo disco, causou a ira de pessoas conservadoras de todos os ambientes, incomodadas com o que consideraram uma “incitação ao ódio e á violência”.
A banda tem a resposta pronta para esse tipo de acusação: “Todo dia morrem negros em todos os cantos do Brasil. Somos alvos prioritários da violência. E quando reagimos somos nós que incitamos a violência? A canção usa metáforas para isolar os racistas e mostrar que eles é que estão do lado errado da história”, diz o baixista Chaene da Gama. “É uma linguagem figurada para que deixemos os racistas se queimarem sozinhos por conta de seu racismo.”
O posicionamento da Black Pantera chama atenção em geral por se tratar de algo incomum no rock nacional, que praticamente se calou nos últimos anos de embates políticos mais intensos.
O ativismo e a virulência na defesa de posições alinhadas à esquerda, mas em defesa da democracia, atraíram um público jovem aos shows e ao consumo de seus produtos, mas não é um público exatamente roqueiro.
Se o rock deixou de falar a linguagem do jovem no geral neste século, o trio mineiro parece estar reparando essa lacuna à base de um som muito pesado e de uma mensagem poderosa.
Aclamados como grande novidade no rock nacional depois de aparições igualmente elogiadas em festivais como Rock in Rio e Lollapalooza, o grupo saboreia a ótima repercussão da foto do trio ter surgido em telões da Times Square, em Nova York, em uma campanha antirracista mundial protagonizada por artistas negros de várias partes do mundo.
A agenda abarrotada da banda de Uberaba (MG) forçou uma mudança de planos, diminuindo o tempo disponível para novas composições e gravações, mas ainda está na mira gravação de um documentário e de um show para comemorar os dez anos do Black Pantera em 2024.
Os três músicos encamparam o lema de Thaíde, importante rapper paulistano, a respeito do engajamento e do ativismo do grupo que tanto causam polêmica e incomodam conservadores em geral: “Estar vivo é um ato de resistência; sobreviver é um ato de resistência. Isso é um ato político poderoso dentro de uma sociedade em que o racismo ainda e forte e a desigualdade racial joga os negros na pobreza. Portanto, a simples existência da Black Pantera é um formidável ato político. e será sempre assim”, diz Chaene.