Beatles forever
Aprendi a ouvir músicas de qualidade com meus pais; aos poucos comecei a amá-las. Desde minha infância ouvia rocks, baladas, tangos, valsas, músicas clássicas nas rádios e em nossa vitrola. Queria também saber dançar o twist, hully gully, balé, enfim era prazeroso ouvir todos os tipos de músicas e em diversas línguas.
O tempo foi passando e, quando tinha onze anos, ouvi um som diferente . Quem tocava aqueles instrumentos e tocava de maneira tão inusitada? Então conheci uns garotos cabeludos ingleses, The Beatles. Paixão à primeira vista. Ao ouvi-los, meu coração acelerava, batia forte, querendo sair pela boca, as mãos tremiam, os olhos cheios de lágrimas. Meu irmão comprava uns compactos de trinta e três rotações e ouvíamos repetidamente e achando lindo demais.
Até decorei algumas letras sem saber inglês, de tanto ouvir. Em 1965, assisti ao filme, Help quinze vezes. Depois, Help, dezesseis vezes. Que emoção!!! Não acreditava estar vendo os quatro garotos de Liverpool na tela do cinema. Muita choradeira, gritaria. Inesquecível. Eu mesma não entendia tamanha identificação. Colecionava revistas, álbuns, discos, figurinhas, tudo o que existia sobre os Beatles.
Até que um dia, resolvi escrever uma carta ao Paul McCartney. Tinha treze anos, estava na terceira série ginasial e a partir de agora começava a estudar Inglês. Apesar dos conhecimentos incipientes, ainda, tentei redigir, mas e se houvesse muitos erros? Afinal, era uma carta para um Beatle. Recorri a meu irmão, mas ele não se arriscou; então, ele lembrou-se de um amigo que lecionava Inglês. Levou minha carta para uma revisão. Devolveu-me, passei a limpo e pedi a meu pai para colocá-la no correio. Mês de maio. Eu perguntava diariamente a meu pai se havia chegado alguma resposta. Coloquei como endereço o local de trabalho dele, pois seria mais seguro. Novembro de 1 966. Perguntando sempre a respeito da resposta. Há mais de um mês meu pai tinha recebido uma correspondência internacional para mim no endereço do trabalho dele. Colocou em sua mala e esqueceu-se.. Quando foi olhar,era de Liverpool. Eu não conseguia segurar o envelope. Quando abri, uma foto autografada pelos quatro garotos de Liverpool e um cartãozinho agradecendo. Não consegui dormir naquela noite… Será mesmo que o Paul saberia que eu existia aqui em Santo André?
No dia seguinte, levei a foto à escola e foi o maior tumulto. Emprestei meu rascunho para várias colegas que enviaram o mesmo texto ao Paul e também receberam a foto.
Finalmente, resolvi agradecer ao amigo de meu irmão que revisou minha carta. Mostrei a ele a foto e o cartão. A partir daí, nasceu uma grande amizade que se transformou em namoro e mais tarde em casamento. Estamos casados há quarenta e sete anos, temos três filhos, quatro netos e todos conhecem os Beatles, suas canções. Até hoje guardo a foto com muito carinho.
Meu marido e eu já estivemos em Londres e Liverpool. Quando Paul e Ringo vêm ao Brasil, sempre que possível, vou aos shows.
Os Beatles são parte de minha vida. Beatles forever.