Parceria com Johnny Depp foi o último trabalho de Jeff Beck
Johnny Deep (esq.) e Jeff Beck (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Uma pequena ajudinha para os amigos. Essa era uma das especialidades do guitarrista inglês Jeff Beck, veterano da cena roqueira e um dos mais aclamados músicos da história, que morreu nesta semana, aos 78 anos. Mesmo com fama de irascível, o gênio da guitarra nunca se negou a estender a mão nas mais diversas situações.
A amizade com o ator Johnny Depp, astro de filmes como “Edward Mãos de Tesura”, “Piratas do Caribe” e “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, não é tão antiga, mas se fortaleceu muito nos últimos cinco anos, ao mesmo tempo em que a habilidade do astro do cinema crescia na guitarra a ponto de ser aceito nos palcos de Alice Cooper e Joe Perry (Aerosmith). Tornou-se figura importante na superbanda Hollywood Vampires.
A parceria também foi um alívio para o astro de cinema, que viveu uma fase turbulenta por conta do litigioso divórcio da atriz Amber Heard, estampado em todas as TVs e capas de jornais.
Apesar de ter gravado algumas coisas sem compromisso com algumas bandas, Depp alimentava o sonho de ser reconhecido como roqueiro e guitarrista competente, ainda que tocando de forma diletante. A oportunidade veio com o Hollywood Vampires, mas era só um entre vários astros.
Então surge Jeff Beck pra dar uma ajudinha ao nem tão novo amigo. “Isolation”, uma canção não tão óbvia de John Lennon, foi o primeiro single lançado no começo do ano e, apesar de meio alternativo, meio esquisito, tinha a marca de Beck n guitarra maravilhosa. Os vocais de Depp, comuns e ultraprocessados, não chamaram muita a atenção.
“18”, lançado em 2022, é creditado a Jeff Beck e Johnny Depp. Deveria ser um disco importante porque é o primeiro do guitarrista inglês desde o maravilhoso “Loud Hailer, gravado em 2016 com a banda Bones como suporte – a cantora Rosie “Bones” Odded e a guitarrista Carmen Vandenberg.
O melhor que se pode dizer do álbum é que ele é despretensioso, com ótimos momentos instrumentais e canções descartáveis oscilando entre o rock alternativo e grunge eletrônico.
Para Deep é um grande passo na música, mais pelo contexto do que pela obra em si; para Beck, não passa de algo sem grandes ambições.
Para várias publicações europeias, Jeff Beck encontrou uma “alma gêmea” em Johnny Depp quando os dois se conheceram em 2016. Eles se uniram rapidamente por causa de carros e guitarras
“18” foi gravado de forma bem lenta a partir de 2019 misturando de originais de Depp e uma variedade de versões (covers) que foram desconstgruídas, passando da Motown até Beach Boys e Killing Joke.
“Quando Johnny e eu começamos a tocar juntos, isso realmente acendeu nosso espírito jovem e criatividade. Nós brincávamos sobre como nos sentíamos aos 18 anos novamente, então isso se tornou o título do álbum também”, comentou o guitarrista no material de divulgação. A capa apresenta uma ilustração de Beck e Depp com 18 anos, desenhada pela esposa de Beck, Sandra.
Nos últimos 12 anos, Depp gravou e excursionou com o Hollywood Vampires, uma banda que ele começou com Alice Cooper e Joe Perry. O supergrupo lançou dois álbuns de estúdio que incluem participações especiais de alguns dos maiores nomes do rock, como Jeff Beck, Paul McCartney, Dave Grohl e Joe Walsh.
A parceria se solidificou quando o ator pediu a Beck para tocar o solo em uma música que ele havia escrito, o primeiro single do álbum “This Is A Song For Miss Hedy Lamarr”, uma homenagem à atriz/inventora.
Os melhores momentos são as canções instrumentais. “Midnight Walker” (composição de Davy Spillane), que abre “18”, lembra “Declan”, canção de inspiração celta contida no disco “Who Else?”, essencialmente melódica e com o DNA do guitarrista.
“Caroline, No”, dos Beach Boys, ganhou um toque “vintage”, com a guitarra de Beck emulando o som da primeira metade dos anos 60, quase como uma “surf music”. é um grande tributo a Brian Wilson.
Também dos Beach Boys é a balada “Don’t Talk (Put Your Head On My Shoulder)”, mito reverente e com a melancolia destacada pela chorosa e pungente guitarra de Beck.
“Venus in Furs”, do Velvet Underground, e “Let It Be Me” se salvam pela guitarra – uma obviedade -, enquanto que Depp se esforça para desconstruí-las com um vocal pós-punk e afetado.
No restante do disco, os vocais do ator aparecem ultraprocessados e repletos de efeitos, que as vezes funcionam, como em “Death and Ressurrection Show”, vers]ão de clássico do Killing Joke, e às vezes não, como na composição de Depp “Sad Motherfuckin’ Parade”, que tenta soar futurista e experimental.
O mesmo ocorre em outra música do ator, “This Is A Song For Miss Hedy Lamarr”, que soa cansativa e não aponta para nenhum lugar.
Por ser uma obra de caráter “diletante”, digamos assim, serviu mais aos interesses de Johnny Depp do que aos de Jeff Beck. Irregular e pretensioso, soa mais como uma curiosidade musical do que realmente um disco relevante na discografia do guitarrista inglês.