Dio, a verdadeira encarnação do heavy metal


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Dio (FOTO: Montagem sobre foto de divulgação)
Dio (FOTO: Montagem sobre foto de divulgação)

Em um determinado momento do espetáculo, Dio olha para Satã e dispara com toda a convicção: “a música sempre vence e prevalece, por que você insiste?” O demônio não tem tempo para pensar ou responder e recebe uma torrente de heavy metal na cabeça,

Essa é uma das passagens de “The Legend of Dio – A Metal Musical”, escrito e dirigido pelo ator, cantor e dramaturgo William James Smith e encenada cinco anos atrás em alguns locais na Austrália. Ele fez o papel de Dio, em meio à execução de clássicos do Black Sabbath, Rainbow e carreira solo.

O baixinho que frequentemente é considerado o melhor cantor de heavy metal de todos os tempos não poderia imaginar que seria imortalizado também no teatro, depois de se tornar uma das grandes referências do rock, além de ser um personagem fascinante da vida.

Morto há dez anos, em um 16 de abril, depois de lutar muito contra um câncer no estômago, Ronnie James Dio continua tão grande quanto nos melhores momentos de uma carreira acidentada e vitoriosa.

Apesar dos vários desentendimentos profissionais que teve ao longo de seus 67 anos de vida – brigou e fez as pazes com os amigos Vinnie Appice, Vivian Campbell, Tony Iommi, Geezer Butler, Doug Aldritch, Craig Goldie e o primo David Feinstein -, era um dos astros mais queridos e estimados do rock, com uma quantidade imensa de amigos. Não é à toa que seu funeral, na Califórnia, teve a presença de milhares de pessoas.

Rob Halford, vocalista do Judas Priest, era um dos admiradores, embora não fosse tão próximo. O Metal God tinha tanta consideração que uma vez declarou que Dio era o grande “metal god” (deus do metal, alusão à canção “Metal Gods”, do Judas).

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O pequenino gigante deus do metal reunia em seus poderoso vocais todas as virtudes do heavy metal, toda a essência de um subgênero musical onde a potência e o peso são preponderantes.

Mais do que referência, tornou-se a meta a ser alcançada – ou ao menos levemente emparelhada. Empreitada impossível, pois ninguém nem chegou perto, e provavelmente ninguém chegará.

Descendente de italianos, Ronald Padavona nunca teve dúvidas de que seria um artista. Cantava e tocava baixo, às vezes, em uma série de bandas de Nova Jersey e Nova York no final dos anos 50.

E foi em 1958, aos 16 anos, que abraçou o rock com convicção mesmo quando, na época, a rebeldia começava a dar  lugar a coisas adocicadas como Paul Anka e artistas semelhantes.

O reconhecimento demorou a aparecer e deixou suas marcas, já que passou praticamente em branco nos anos 60 com algumas de suas bandas, entre elas The Elves, mais tarde Elf.

Enquanto tudo acontecia, Ronald via os anos 70 chegar e sua carreira não empacar. Estava em um beco sem saída. O mergulho no rock psicodélico no finalzinho de 1968 e em 1969 deu algum fôlego aos Elves, mas tiveram de invadir a década seguinte tocando covers de Beatles, The Who, Rolling Stones e muitos outros artistas, antes que o peso começasse a dominar a sonoridade da banda.

Já como Elf, o grupo começa a chamar a atenção na Costa Leste americana, ainda que nada fosse original no seu som cada vez mais hard. Coube a Roger Glover, baixista do Deep Purple, dar um empurrão na careira da banda depois de dar uma espiada e se tornar uma espécie de produtor/conselheiro.

Astro tardio, viu o reconhecimento chegar após os 30 anos de idade, mas para isso foi obrigado a aturar as esquisitices e a mão de ferro do temperamental guitarrista inglês Ritchie Blackmore, que saiu do Deep Purple para criar o Rainbow. O Elf deixou de existir para dar suporte ao mestre do Purple, embora pouco depois só restasse Dio no grupo.

Venerado e idolatrado, já em 1977 Dio era referência para o nascente heavy metal, que despontou mesmo, para valer, a partir de 1979. Às turras com Blackmore, decidiu dar o maior passo de sua vida: substituir Ozzy Osbourne no Black Sabbath. Virou ídolo mundial a partir de 1980.

Exigente, mas generoso; intempestivo, mas leal; rigoroso com a ética no trabalho, mas amigo e companheiro a ponto de criar laços permanentes com boa parte de seus companheiros e ex-companheiros de bandas.

Dio conseguiu a façanha de ser elogiado por adversários, concorrentes e ex-inimigos. Chegou a um ponto em que pairava acima de qualquer controvérsia, além de iluminar qualquer ambiente com sua presença.

O mestre do metal adorava contos de fadas, lendas antigas e ficção científica, embora nunca tenha sido reconhecido como grande letrista. Seja como for, nunca se incomodou com a pecha de compositor dos dragões e dos elfos.

Deu a sua resposta em várias canções com letras sérias e atuais, com crítica social e comportamental, como no álbum “Angry Machine”, por exemplo, ou em “Dehumanizer”, seu último álbum com o Black Sabbath, em 1992, ou nas músicas novas que gravou com o Heaven and Hell a partir de 2007, terminando no excelente álbum “The Devil You Know” (lembrando que o Heaven and Hell era o Black Sabbath com Dio; trocou de nome por uma exigência de OzzyOsbourne e sua esposa, a empresária Sharon Osbourne, já que o Black Sabbath não estava formalmente encerrado em 2007).

Dio demorou, mas venceu, e se tornou gigante do alto de seu pouco mais de metro e meio de altura. Mais do que referência, virou personagem da vida e ganhou para si um musical.

É provável que outros artistas ganhem no futuro, assim como gente como John Lennon, Michael Jackson, Andy Warhol e mais alguns outros já ganharam. Parece que o baixinho do metal está em boa companhia.

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